A jornada do Herói de Joseph Campbell

 

O Herói de Mil Faces, de Joseph Campbell, lançado em 1949, apresenta um importante direcionamento para entender a anatomia das histórias. A grande inquietação de Campbell era descobrir por que algumas histórias perdiam-se com o tempo e outras se imortalizavam na cultura de um povo. Profundo estudioso dos mitos, das lendas e fábulas, ele pesquisou milhares de histórias na busca de uma resposta, passeando inclusive, pelas teorias psicanalíticas (ele foi contemporâneo de Freud e Jung).
O que ele finalmente descobriu foi que as histórias possuíam uma mesma estrutura, configuradas pela presença de um herói, que poderia ser uma pessoa, um grupo de pessoas, um animal, uma entidade e até uma idéia; que este herói saía de sua rotina e enfrentava uma situação especial, não importando se ele a procurou, se foi induzido, ou se por força das circunstâncias ele teve que enfrentar; e, que este herói retornava ao seu mundo transformado, após viver a experiência.

 Esses três passos configuravam a estrutura básica de qualquer história. Apreendida essa estrutura, Campbell  enveredou ainda mais sobre o seu objeto de estudo – as lendas, as fábulas, os mitos – e conseguiu identificar doze etapas que compunham o núcleo de funcionamento das histórias. O modelo identificado recebeu o nome de A JORNADA DO HERÓI e foi apresentado no livro já citado O Herói de Mil Faces.
Bastante utilizado por escritores e cineastas para a construção de suas histórias, esse modelo vem sendo cada vez mais divulgado. Entretanto, ele deve ser visto como uma ferramenta que, embora muito importante para um escritor, serve para orientar as suas escritas, mas jamais para ser adotada de forma rígida, bloqueando a criatividade do autor. Há excelentes obras em que a histórias não cobriram todas as etapas.  O modelo é o seguinte:

1) Mundo Normal
A identificação do herói com o seu mundo normal, a sua rotina, o seu ambiente, as suas relações. 

2) Chamamento para a Aventura
O herói recebe um chamado à aventura, seja através de alguém, de algum fato incomum que lhe ocorre, de uma idéia, uma crise existencial, não importa.

3) Recusa do Chamamento
Ele recusa num primeiro momento o chamado, reage às mudanças que poderiam ocorrer em sua vida com a aceitação, o novo lhe assusta, a rotina lhe é conveniente.

4) Encontro com o Mentor
O mentor pode ser uma situação metafórica, ou alguém que lhe dê o impulso que precisa para tomar a decisão de partir.

5) Travessia do Limiar
É o momento em que o herói forçado pelas circunstâncias ou por vontade própria, sai da rotina e inicia a jornada.

6) Testes, aliados e inimigos
A maior parte da história se concentra nessa etapa. No mundo especial o herói passa por vários testes durante os quais forma alianças e inimizades.

7) Aproximação do objetivo
É aqui que o herói mais se aproxima do seu desejo, da concretização do seu plano, mas é também um momento tenso pela possibilidade de sua não realização.

8) Provação Suprema
Nesta etapa o herói mergulha no ponto máximo da crise, em que o desafio diante dele é supremo. Muitos riscos, muita emoção, momento de muito suspenso.

9) Conquista da Recompensa
Vencida a prova, o herói sai vitorioso e obtém a recompensa que é o objeto do seu desejo, da sua luta, da sua jornada.

10) Caminho de Volta
O herói inicia o caminho de volta ao mundo que abandonara para viver a aventura. Esse retorno pode ser metafórico ou não. Normalmente é a parte mais curta da história.

11) Depuração
Alguma situação pendente poderá ter o herói que resolver. Às vezes é aquele bandido que todos pensavam que estava morto e de repente surge com um punhal na mão rsrsrsrrsrsrs.

12) Regresso Transformado
É o The End da história, o herói está de volta mas já não é mais o mesmo, ele retorna amadurecido, transformado.

Além da Limeira

Além da Limeira

Edna Alcântara 27/02/2012

(Para Mãe Severina)

Oh! Tu que choras

Essa fria cruviana

Pela face a rolar

No relance desse raio

Ou na réstia da candeia

Deixa que eu me vá

Saltando sebes floridas

Molhando as vestes no limo

Nesses campos da Limeira

Pelo espaço seguirei

Em busca do lugar que

Em vida conquistei

Haverá sempre mesa posta

E convidados em volta

Feijão de corda na cuia

Angu pirão e farofa

O prato de carne seca

Depois café bem passado

A rede armada no alpendre

Para o cansaço embalar

A jarra de água do açude

Esfriando atrás de casa

Meninos correndo em volta

Mesmo que eu lá não esteja

Pois o sabor da rotina

Está na alma de quem faz

È trama que a vida traça

Deixa que eu parta então

Enxuga o pranto da face

Desfaz o luto e o queixume

Que um dia tudo volta

Basta que o vento sopre

Lá pras bandas do açude

E o céu se abra todinho

Para o carro do sol passar

Então estarei por aqui

Entre a brisa e o silêncio

Zelando com meus cuidados

Os filhos que vou deixar

Comentário de Odete Brás sobre o poema Além da Limeira

Querida amiga:

Como sou dos velhos tempos, ainda tive de ir ao dicionário saber o significado de ” cruviana ” ! Na minha terra sentem-se os efeitos, mas não me lembro de ouvir o termo. Mais essa para a minha valorização pessoal. Seu poema, que adorei – cheirinho do viver no Nordeste da há uns anos atrás – encantou-me e fez-me recordar, embora sem nada a vêr … o verso da Sophia de Mello Breyner : ” Quando eu morrer, voltarei para buscar os instantes que não vivi junto ao mar ! ” Sophia viveu junto ao mar português, Mãe Severina no Nordeste brasileiro. Difícil é fazer poesia onde o menos é mais, muito mais. Parece feita por arquitecto, a compasso e régua, mas sem perder o essencial, o sentimento. Nada de palavras supérfluas, adjectivos floreados. Aí está a essência apresentada de forma clean. O que é mais difícil … Parabéns.