PROGRAMAÇÃO 2020

TRAÇO FREUDIANO VEREDAS LACANIANAS ESCOLA DE SPSICANÁLISE

OFICINA DE CRIAÇÃO LITERÁRIA CLARICE LISPECTOR

PROPOSTA DE PROGRAMAÇÃO PARA 2020

Data de início – 05/02/2020

Horário – Quartas-feiras de 14h00 às 16h00
Local: Traço Freudiano Veredas Lacanianas Escola de Psicanálise – Rua Alfredo Fernandes, 285, Casa Forte – Recife- PE
Contatos –Fone: 3265-5705 (Luciene).

Blog: www.traco-freudiano.org/blog 

E-mail: oficinaclaricelispector@googlegroups.com

O tema para direcionamento de leituras e escritas será a condição humana: o vazio, a angústia, o ser ou não ser, o medo da morte, o desejo, o amor, a culpa, o ódio, a frustração, a paixão, a falta, a solidão, o sonho, a fantasia. Fontes primárias dos escritores que estão bem adiante das pessoas comuns no conhecimento da mente humana, segundo Freud. Elas permitem a tessitura de tramas que se tornam grandes obras literárias. Desvendar o homem através de seus sentimentos, diante de determinadas circunstâncias, é o peregrinar contínuo do escritor ficcional e o que o diferencia dos demais escritores.

Para apoio à análise das obras selecionadas e à escrita dos participantes será aprofundado o estudo de elementos narrativos fundamentais: tipos de narrador e de focos narrativos; e nuances para construção de diálogos.

Como vai funcionar:

  • Leitura e análise de poema, conto ou peça teatral de autores selecionados.
  • Leitura e análise dos escritos dos participantes.
  • Leitura de Teoria Literária e exercícios de técnicas quando o contexto assim o exigir.

Participantes:

  • Interessados em desbloquear a escrita, viajar pelas emoções através da Literatura, do mistério e deslizamento das palavras;
  • Escritores, potenciais escritores e críticos literários movidos pelo desejo de escrever e realizar leituras que ultrapassam os significados das palavras e deslizam para seus outros sentidos.

Bibliografia:

Sugestões de Material Teórico

ECO, Umberto – Confissões de um Jovem Romancista, Editora Record.

LEITE, Lígia Chiappini Moraes – O Foco Narrativo, Editora Ática.

MCKEE, Robert – DIÁLOGO – A Arte da Ação Verbal na Página, no Palco e na Tela, Editora Arte e Letra.

Sugestões de Contos:

ANTUNES, Lobo – A História do Hidroavião – digitalizado

ASSIS, Machado – A Igreja do Diabo – digitalizado

CALVINO, Ítalo – Os Filhos Madraços

CAMUS, Albert – A Mulher Adúltera

                            – O Avesso e o Direito

CRUZ, Afonso – A Queda de um Anjo – digitalizado

JORGE, Lídia – Dama Polaca Voando em Limusine Preta – digitalizado

LISPECTOR, Clarice – A Fuga – digitalizado

MARÍAS, JAVIER – Uma Noite de Amor – digitalizado

PEDROSA, Inês – Quartos de Hotel – digitalizado

PEIXOTO, José Luiz – Aqui, Aqui, Aqui – digitalizado

ROSA, João Guimarães – Nada e a nossa condição – digitalizado

TAVARES, Gonçalo M – A Moeda – digitalizado

VILELA, Luiz – Confissão – digitalizado

                        – O Buraco – digitalizado

Lourdes Rodrigues publicou dois livros de contos: Bandeiras Dilaceradas e Situação-Limite, pela Bagaço.  Organizou, prefaciou e participou dos cinco livros Escrituras, que contemplam textos literários dos participantes da Oficina relativos aos períodos 2006/2019.  Coautora de rodopiano, e de A Criação Literária à Luz do livro Incidentes em um Ano Bissexto de Luiz-Olintho Telles da Silva. Publicou ensaios na Revista Veredas. Membro do Traço Freudiano Veredas Lacanianas Escola de Psicanálise desde 2003, onde participa, atualmente, do grupo de Arte e Psicanálise. A partir de 2006 passou a coordenar a Oficina de Criação Literária Clarice Lispector.

Leituras Realizadas

Além das leituras realizadas durante a viagem pelos mares das palavras às quartas-feiras, já registradas no prefácio de Escrituras V, Velas a Barlavento, somos leitores ávidos e muitas outras leituras foram feitas por cada um durante o ano de 2019. Para dividirmos algumas dessas leituras criamos o Carrossel Literário, momento em que levamos livros para compartilhar, resultando num troca troca muito agradável. Além disso, alguns viageiros, entre eles eu me incluo, fizeram uma lista dos livros lidos durante o ano, que apresento aqui.

Meus Livros: com certeza esqueci de alguns. Esses foram os lembrados.

  1. – A Máquina de Fazer Espanhóis – Valter Hugo Mãe
  2. – Palmeiras Selvagens – William Faulkner
  3. – A Praia de Manhattan – Jennifer Egan
  4.  – A Visita Cruel do Tempo – Jennifer Egan
  5.  –Eu sei por que o pássaro canta na gaiola – Maya Angelou
  6.  – O caminho de Casa – Yaa Gyasi
  7.  – No seu pescoço – Chimamand Ngosi
  8.  –  Essa Gente – Chico Buarque
  9.  –  Prohibido Morir Aqui – Elizabeth Taylor
  10. – The Reckoning – John Grisham
  11. – Rushing Waters – Danielle Steel
  12. – Romancista como vocação – Haruki Murakami
  13. – Mulher Desiludida – Simone de Beauvoir
  14. – Um Homem Bom é Difícil de Encontrar – Flannery O’Connor
  15. ­– A Velocidade da Luz – Javier Cercas
  16. – Prólogo, Ato, Epílogo: Memórias – Fernanda Montenegro
  17. – De amor e Trevas – Amós Oz
  18. – Elza – Zeca Camargo
  19. – A Arte da Sabedoria – Baltasar Gracián
  20. – Como se Faz Literatura – Affonso Romano de Sant’Ana
  21. – Contos Completos – Flannery O’Connor
  22. – Quarenta Dias – Maria Valéria Rezende
  23. – Silêncio – A biografia de Maria Theresa Goulart – Wagner William
  24. – Caetano – Biografia – Caetano Veloso
  25. — Livros e Borrachas – Eduardo Ericson
  26. – E a História Começa – Amóz Oz
  27. — O Dilema do Porco Espinho – Leandro Karnal
  28. – La Habana Vieja: olhos de ver – Políbio Alves
  29. – A Leste dos Homens – Políbio Alves
  30. – O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação – Haruki Murakami
  31. – A flor Lilás e outros contos – Ricardo Braga
  32. – Um Conto de Natal – Charles Dickens
  33. – Laços – Domenico Starnone
  34. – Amor Incômodo – Elena Ferrante

Livros que li em 2019 (que eu me recorde)

Elizabeth Freire

1.0 -O filho de mil homens – Valter Hugo Mãe

2.0 – Praia de Manhatan – Jennifer Egan

3.0 – Romancista como vocação – Haruki Murakami

4.0 – O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação- Haruki Murakami

5.0 – IQ84 (volume I) –  Haruki Murakami

6.0 – Contos mais populares e os menos conhecidos de Machado de Assis

7.0 – A Paixão segundo G H – Clarice Lispector

8.0 – O Grande Gatsby – F. Scott Fitzgerald

9.0 – Dias de abandono – Elena Ferrante

10.0 – O estrangeiro – Albert Camus

De alguns gostei muito, de outros nem tanto e de poucos não gostei.

O que mais me chamou atenção pela sutileza dos personagens, pelo estilo encantador e pela mensagem de esperança foi o Filho de Mil Homens – de Valter Hugo Mãe.

Os 10 melhores livros que li (ou reli) em 2019

Fernando Gusmão

1.0 – A Intermitência da Morte, de José Saramago

2.0 – Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis

3.0 – Para viver em paz – O milagre da mente alertado, de Thich Nliât Hanli

4.0 – A ilha do conhecimento: os limites da ciência e a busca por sentido, de Marcelo Gleiser.

5.0 – Quincas Borba, de Machado de Assis

6.0 – O Velho e o Mar, de Ernest Hemmingway

7.0 – Os homens que não amavam as Mulheres, de Stieg Larsson

8.0 – O terrorista elegante e outras histórias, de Mia Couto e José Eduardo Agualusa

9.0 – A Livraria dos Finais Felizes, de Katarina Bivald

10.0 – Um amor incômodo, de Elena Ferrante

Livros lidos em 2019

Paulo Tadeu

Uma breve história da filosofia Nigel Warburton
Pantera no porão Amós Oz
Frufru Rataplã Dolores Dalton Trevisan
A mulher mais linda da cidade e outras histórias Charles Bukouwski
O fim do ciúme e outros contos Marcel Proust
Mayombe Pepetela
A noite em questão Tobias Wolff
O homem que queria ser rei e outros contos Rudyard Kipling
O estranho caso do Dr. Jekill e do Sr. Hide Robert L. Stevenson
O ladrão de cadáveres Robert L. Stevenson
Moby Dick Herman Melville
Histórias dos mares do sul W. Somerset Maugham
A morte de Olivier Bécaille Èmile Zola
A promessa; A pane Friedrich Dürrenmatt
Adeus às armas Ernest Hemingway
Havana para um infante defunto G. Cabrera Infante

Livros lidos em 2019

Lilia Gondim

Autor Título Obs
1 ErnestHemingway Um lugar limpo e bem Iluminado Conto isolado
2 Flannery ’Connor Contos completos  
3 Javier Cercas A velocidade da luz Conto isolado
4 Diana Gabaldon Outlander livro 6  
5 Diana Gabaldon Outlander livro 7  
6 M Valéria Rezende Outros cantos  
7 M Valéria Rezende Carta á rainha louca  
8 Ambrose Bierce O rastro de Charles Ashmore Conto isolado
9 Ambrose Bierce Um incidente na ponte Owl Crek Conto isolado
10 Machado de Assis O machete Conto isolado
11 Lisa Klein Ofélia  
12 Teresa Sales Cheiro de Velame  
13 Fred Vargas The accordionist  
14 Philippa Gregory Três irmãs, três rainhas  
15 Jenny Colgan A padaria dos finais felizes  
16 Nina George O livro dos sonhos  
17 Armando Lucas Correa A garota alemã  
18 Markus Zusak O construtor de pontes  
19 Saramago O cerco de Lisboa Relido
20 Saramago Memorial do convento Relido
21 Umberto Eco O nome da rosa Relido
22 V Nabokov Lolita Relido
23 Ildefonso Falcones A rainha descalça  
24 Ildefonso Falcones A mão de Fátima  
25 Urariano Mota A mais longa duração da juventude  
26 Manuel Pinheiro Chagas O terremoto de Lisboa  
27 Eva Werner O menino dos fantoches de Varsóvia  
28 Nina George A livraria mágica deParis  
29 Ken Follett Um lugar chamado liberdade  
30 Ken Follett Coluna de fogo  
31 Adrienne Monnier Rua do Odeon  
32 Thomas Harding A casa do lago  
33 Saramago Objeto quase  
34 Philip Roth Quando ela era boa  
35 Philip Roth Operação Shylock  
36 Maxim Huerta Uma loja em Paris  
37 Maria Dueñas As filhas do capitão  
38 Ariano Suassuna Romance de D. Pantero  
39 Elena Ferrante Um amor incômodo  
40 Elena Ferrante A filha perdida  
41 AntonioCavanillas de Blas A amiga de Leonardo da Vinci  
42 Jean E. Pendziwol O farol e a libélula  
43 Jennifer Egan Praia de Manhattan  
44 Paulo Cognatti As oito montanhas  
45 Valter Hugo Mãe A desumanização  
46 Valter Hugo Mãe O remorso de Baltazar Serapião  
47 Ana M. Gonçalves Um defeito de cor  
48 Marco Albertim Conspiração Guadalupe  
49 Marcelo M Melo Adversos Resistentes  
50 Hermilo Borba Filho Agá – Versão vermelha  
51 Hermilo Borba
Filho
Os ambulantes de Deus  
52 W Faulkner Enquanto agonizo  
53 Amós Oz A pantera no porão  
54 Mauro Mota Crônicas escolhidas  
55 Ricardo Braga A flor lilás e outros contos  
56 MargarethAtwood O conto da aia  
57 José Almino Alencar Gordos, magros e guenzos  
58 Walter Isaacson Leonardo da Vinci  

Mitafá

As leituras que lembro ter feito em 2019:

  1. –  O Falador, Mario Vargas Llosa.
  2. –  Madame Bovary, Flaubert
  3. –  Obras Completas, Raduan Nassar
  4. –   Werther Goethe
  5. –  A Metamorfose, Kafka
  6.  – A Lebre com olhos de âmbar, Edmundo Wall
  7. – O Estrangeiro, Albert Camus
  8. –  Vivendo com os Mestres do Himalaia, Swami Ajaya( org.)
  9. – Poesia Completa de Fernando Reis, Fernando Pessoa
  10. – Para Viver com Poesia, Mário Quintana
  11. – Infanto juvenis: A Origem do Mundo, Maria Augusta Randon
  12. –  Livro das Origens, José Arrabal
  13. –  Baús de trocas, Marilene lemos
  14. –  A Arte de Contar Histórias no séc.XXI, Cléo Busato
  15. –  O Valor Terapêutico de contar histórias, Margot Sunderland        (releitura)
  16. –  Psicologia Analítica e os contos de fadas, Patrícia Moreira
  17. –  A Arte de Encantar e o contador de história contemporâneo e seus olhares, Fabiano Moraes e Lenice Gomes(orgs)
  18. – O ofício do Contador de histórias, Gislayne Matos (releitura)
  19. –  Palavra do Contador de Histórias, Gislayne Matos( releitura)
  20. –  Seis Passeios pelos bosques da ficção, Humberto Eco
  21. ­– O Fluxo de Consciência, Robert Humphrey
  22. –  Tecendo fios, Campos de Queirós
  23. –  O Destino das Metáforas – Sidney Rocha

LUZIA FERRÃO

LEITURAS EFETUADAS/ ANO 2019
 
A CEIA DOS CARDEAIS                                  JULIO DANTAS
A CINZA DO PURGATÓRIO                           OTTO MARIA CARPEAUX
A JORNADA DO ESCRITOR                            CHRISTOPHER VOGL
A ÁRVORE (Conto)                                        MARIA LUISA BOMBAL
A FLOR LILÁS E OUTROS CONTOS                RICARDO BRAGA
A CHUVA (Conto)                                           SOMERSET MUGHAM
A PAIXÃO SEGUNDO GH                               CLARICE LISPECTOR
A TARDE DE UM ESCRITOR                           PETER HANDKE
ANTÍGONE                                                       SÓFOCLES     
A ANGUSTIA DA NFLUENCIA                       HAROLD BLOOM
A ILHA                                                             ALDOUS HUXLEI
A INTERPRETAÇAO DOS SONHOS               FREUD
ALGUNS ASPECTOS DO CONTO                   CORTAZAR
A MULHER DESILUDIDA                                SIMONE DE BEAUVIOR                                                           
A SERPENTE                                                     NELSON RODRIGUESS
A VELOCIDADE DA LUZ                                  JAVIER CERCAS
ANDANÇAS PELA FICÇÃO                              LOURDES RODRIGUES
ALMAS MORTAS                                             GOGOL                                           
CANTARES                                                        HILDA HIRST
CARTAS A RAINHA LOUCA                               MARIA VALERIA REZENDE
CONQUISTA DE BRAGA                                     SARAMAGO
CONTOS DE MACHADE DE ASSIS                      MACHADO DE ASSIS
CONTOS COMPLETOS                                           FLANERY O’CONORY  
CONTOS DE IMAGINAÇÃO E MISTERIOS            EDGAR ALLAN POE
CONTOS LATINO-AMERICANOS ETERNOS          VÁRIOS AUTORES
CRONICA                                                               LUANA BERNARDESO
DO RIO QUE TUDO ARRASTA                                  BERTOLT BRECHT
DE AMOR E TREVAS                                             AMOZ OZ                                       
ENSAIO AUTOBIOGRAFICO                                  JORGE LUIS BORGES
ENTREVISTA                                                               HUMBERTO ECO
ESPERANÇA                                                                EMILY DICKSON
EXPLORADORES, MAIS QUE INVENTORES            ERNESTO SABATO
MADRIGAIS PRIVADOS                                          EUGENIO MONTELE                                                      
GRANDE INQUISIDOR (Conto)                                 DOSTOIEVSKI
HISTORIAS EXTRAORDINARIAS                               EDGAR ALLAN POE
KAFKA E A BONECA VIAJANTE                            JORDI SIERRA FABRA
LUTO E MELANCOLIA                                                    FREUD
LAÇOS                                                         DOMENICO STARNONEN                                                    
MEMORIAL DE BRAS CUBAS                                 MACHADO DE ASSIS
MULHERES SEM NOME                                       MARTHA HALL KELLY
MUNDO CRISTAO E A FUND.DA EUROPA        OTTO M CARPEAUX                                                                
NO DEPARTAMENTO DOS CORREIOS(Conto)     ANTON TCHÉKHOV                                                           
TERRORISTA ELEGANTE E OUTRAS        MIA COUTO, J.E.AGUALUSA                                                                                      
O PRÓPRIO SER EU CANTO                                        WALT WHITMAN
O NARIZ                                                                              GOGOL
OS ESTRANHOS                                                             STEPHAN   KING
ODISSEU A TELÊMACO                                              JOSEPH BRODSKY
OBRA ABERTA                                                              HUMBERTO ECO
O MACHETE   (Conto)                                     MACHADO DE ASSISS                                                
PARA INTRODUZIR O NARCISISMO                                FREUD
POEMAS                                                                 JORGE LUIS BORGES
POEMAS                                                                           ADELIA PRADO
POEMAS                                                                             PUCHINK
POEMAS                                                                             TCHÉCKOV
POEMAS                                                                        BERTOLT BRETCH
POEMAS                                                                             MIA COUTO
POEMAS                                                                       THIAGO DE MELO
POEMAS                                                         SOROR INES DE LA CRUZU                                                                                                                                                                                                      
RÉQUIEM  POR TATIANA                                               TATIANA
RETRATO DE UM ARTISTA QUANDO JOVEM             JAMES JOYCE
SEIS PASSOS PELO BOSQUE DAS PALAVRAS             HUMBERTO ECCO                               
SOBRE A TRANSITORIEDADE                       FREUD VERGÄNGLICKEIT                                                         
TODAS AS CRONICAS                                             CLARICE LISPECTOR                                                                
UM CORAÇÃO SINGELO                                                    FLAUBERT
UM AMOR INCOMODO                                             ELENA FERRANTE
UM LUGAR LIMPO E ILUMINADO                    ERNEST HEMINGWAY                                                            
VASOS COMUNICANTES E CAIXA CHINESA   MARIO VARGAS LLOSA
VIDAS SECA                                                           GRACILIANO RAMOS
VIDA E DESTINO                                                     VASSILI GROSSMAN
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
   
 
 
 
 
 
 

Escrituras V – Velas a Barlavento

Lançamento em 11/12/2019

O lançamento de Escrituras V – Velas a Barlavento foi uma grande festa! As pessoas foram chegando devagar, ocupando os espaços e quando nos demos conta quase não podíamos circular tão cheia estava a livraria da Praça de Casa Forte, local do lançamento. Amigos novos, amigos de sempre, amigos que não víamos há muito tempo reforçando sentimento antigo de amizade. Companheiros de luta, de ideias, de paixão pela Literatura. Ouvi dos outros autores as mesmas falas sobre os seus convidados ali presentes. Uma festa, uma grande festa! Segundo um amigo, deveria ter sido em outro lugar, bem mais amplo, para que todos coubessem com certo conforto. Não sei. Aquele lugar lindo e adorável da Livraria não nos deixava sentir o desconforto da circulação difícil, antes dava-nos sensação de aconchego, e a grata possibilidade de sentir cheiros e ouvir sons agradáveis e conhecidos. Encantado, outro amigo me disse, você jamais conseguirá repetir esse lançamento: isso foi um grande acontecimento! Concordo que foi um grande acontecimento. Assim foi registrado na nossa Carta de Navegação. Quanto a não ser capaz de repetir, acredito. Nada se repete. Sequer nós seremos os mesmos num próximo lançamento. O próximo terá o seu brilho particular, as suas sutilezas, e registrará outras viagens, outros percursos porque com as velas a barlavento a nossa nau continuará a singrar outros mares em 2020.

Algumas imagens do evento:


Que quer uma Mulher? O feminino nas palavras

Ementa/Programa :

A oficina irá priorizar, no primeiro semestre de 2019,  a abordagem do feminino, mais especificamente, a relação filha-mãe, seguindo, inicialmente,  as pegadas  da Literatura de Elena Ferrante em O Amor Incômodo, e o eco das palavras de Freud, Afinal, o que quer uma Mulher? A complexa relação da personagem narradora com a sua mãe traz para reflexão a afirmação de Lacan de que o amor materno, pela sua impossibilidade de acontecer,  pode ser devastador para uma filha. Sob o ponto de vista essencialmente literário, a narrativa pode ser vista como uma Obra Aberta,  no sentido atribuído por Umberto Eco, pela ambiguidade e possibilidades que ela enseja. Trata-se de um romance de pouco mais de cento e setenta páginas, mas muito rico tanto pela sua forma, como pelo seu conteúdo instigante.

Além da leitura da obra catalizadora O Amor Incômodo, de Elena Ferrante, muitas outras atividades com as palavras serão desenvolvidas  visando:

  • Contato mais intenso com a linguagem poética através da leitura de poemas na abertura dos trabalhos;
  •  Produção de textos criativos, fugindo do convencional, da mesmice, pelo  exercício de escritas, a partir de linhas de história, jogos de     palavras, associações livres, releituras de narrativas clássicas, mudanças de   ponto de vista, alterações de cenário, tempos de narrativas, diálogos;
  • Produção de ensaios e resenhas a partir dos trabalhos realizados;
  • Fortalecimento do senso crítico a partir da leitura particular, da teoria literária e das técnicas utilizadas para análise literária;
  •  Participação como crítico ou autor da construção coletiva do romance iniciado  em 2015;
  • Postagens no blog da Oficina.

Como vai funcionar:

  • Leituras do romance, poemas e contos no computador, tablet, celular ou impressos.
  • Exercícios de escrita na Oficina ou leitura de textos produzidos pelos participantes.
  • Leitura de A História da Literatura Ocidental, de Otto Maria Carpeaux.
  • Leitura de Teoria Literária e exercício de técnicas quando o contexto assim o exigir.

Participantes:

  • Interessados em desbloquear a escrita, viajar pelas emoções através da Literatura, do mistério e deslizamento das palavras;
  • Escritores, potenciais escritores e críticos literários movidos pelo desejo de escrever e realizar leituras que ultrapassam os significados das palavras e deslizam para seus outros sentidos e não ditos.

Bibliografia:

CARPEAUX, Otto Maria – História da Literatura Ocidental, Editora Leya, São Paulo                 

D’Onofrio, Salvatore – Forma e Sentido do Texto Literário – Atica, São Paulo, 2007
Eco, Umberto – A Obra Aberta – Editora Perspectiva, São Paulo, 2008.

                        – Entre a Mentira e a Ficção – Editora Record, São Paulo, 2006

                        – Passeios pelos Bosques

Goldberg, Natalie – Escrevendo com a Alma – Martins Fontes, São Paulo, 2008

Kohan, Silvia Adela – Os Segredos da Criatividade –  Gutenberg, São Paulo, 2009
Lodge, David. – A Arte d a Ficção – L&PM, Porto Alegre, 2009
Llosa, Mario Vargas – Cartas a um Jovem Escritor
Moisés, Massaud– A criação Literária –Cultrix, São Paulo
Prose, Francine – Para ler como um escritor,
Wood, James. Como Funciona a Ficção – COSACNAIFY,São Paulo, 2011

Sugestões de bibliografia para Contos:


Casares, Adolfo Bioy, Gomes, Jorge Luis -e Silvina – Antologia da Literatura Fantástica, COSACNAIFY, São Paulo.
Costa, Flávio Moreira – Os Melhores Contos de Loucura – Ediouro, 2007
                                    – Os 100 Melhores Contos de Humor da Literatura Universal,

                                       Ediouro, 2001
                                    –  Os 100 Melhores Contos de Erotismo da Literatura   

                                        Universal, Ediouro

                                     –  Os Melhores Contos da América Latina, Agir, 2008
Gomide, Bruno Barreto (Org.) – Nova Antologia do Conto Russo (1792-1998),

                                                    Ed.34, São Paulo.
Mansfield, Katherine – K. Mansfield, COSACNAIFY, São Paulo
Poe, Edgar Allan – Contos de Imaginação e Mistério, Tordesilhas, 2012
Renner, Rolf G e Backes, Marcelo – Escombros e CaprichosO Melhor do Conto Alemão no Século 20
Wilde, Oscar – As Obras Primas – Ediouro, 2000
Woolf, Virgínia – V. Woolf, COSACNAIFY, Sâo Paulo

Coordenação:

Lourdes Rodrigues publicou dois livros de contos: Bandeiras Dilaceradas e Situação-Limite pela Bagaço.  Participou de algumas Antologias de Contos da UBE, de Benito Araújo e da Oficina de Raimundo Carrero, da qual fez parte por mais de 10 anos. Organizou e prefaciou o livro Escrituras, publicação que contemplou os textos literários dos participantes da Oficina relativos ao período 2006/2009.  Organizou, prefaciou e participou com contos e ensaio de Escrituras II, Escrituras III e Escrituras IV, este último publicado por meio digital pela Amazon.com. que abrangeram os trabalhos literários dos oficineiros de 2010 a 2017. Coautora de A Criação Literária à Luz do livro Incidentes em um Ano Bissexto de Luiz-Olintho Telles da Silva. Outra importante área de seu interesse sempre foi a Psicanálise, tornando-se membro do Traço Freudiano Veredas Lacanianas Escola de Psicanálise em 2003, onde participou de vários grupos de estudos e hoje participa do grupo de Arte e Psicanálise. Desde 2006 coordena no Traço a Oficina de Criação Literária Clarice Lispector, primeiro dividindo o leme com outro colega viageiro, depois num trabalho coletivo com os seus integrantes. Decorrente desse vínculo com o Traço foi coautora do livro rodopiano e publicou vários ensaios na Revista Veredas, participando do conselho editorial da Revista.

Resenhas

Os nossos viageiros produzem resenhas com as suas impressões sobre  a leitura de um conto ou de um romance. Enquanto leitores empíricos, eles fazem as suas próprias andanças pelo texto, o que as tornam extremamente interessantes.

Aqui temos duas delas, a de Graça Lins, Professora de Literatura, viageira atenta aos silêncios e simbolismos de uma escritora como Clarice Lispector em A Paixão, Segundo G,H; e, a de Fernando Gusmão, viageiro-escritor-poeta, muito atento ao concerto musical de A Arvore, metáfora usada pela escritora Maria Luísa Bombal. 

A PAIXAO “SEGUINDO” GH

Graça Lins

Ler ou decifrar? Reler ou indignar-se?  “Tresler” ou esvaziar-se de toda Teoria da Literatura? Eram as frequentes indagações que se faziam a cada leitura compartilhada de A Paixão segundo GH, no grupo da Oficina Literária, cuja madrinha é a própria Clarice Lispector.  

Os olhos atentos e impactados dos leitores, quase sempre, sem respostas. Quem busca logicidade em Clarice se depara com o caos milimetricamente construído. Pensei e calei.

A Literatura e a Psicanálise dialogavam. A Linguística, também. E os leitores? Todos na expectativa do banquete: uma barata de longos cílios e massa branca escorrendo do ventre.

A cada leitura, novos questionamentos: “De quem é essa mão a que GH se refere?” “Por que o uso de tantos travessões, sem indicativo de fala de alguém como a norma gramatical preconiza?” “Seria uma linha pontilhada, indicando  um caminho já  percorrido?” “O livro termina com 6 travessões? Que estranho!”

Enquanto a narrativa se desenrolava, os presentes mais se confundiam e os ausentes queriam, mesmo, era participar do prazer gastronômico que Clarice anunciava e os envolvia como uma tecelã, usando fios ficcionais que atavam à imaginação as imagens que construíam e desconstruíam a cada  capítulo.

Para essa tessitura, outros leitores foram convidados: Freud, Sartre, Lacan, Kierkgaard, Camus, São Tomás de Aquino. Valei-nos!  Até passagens do Levítico.

As citações bíblicas eram um bálsamo para o mal-estar da incompreensão. A interlocução, com a figura de um possível leitor, lembrava o mesmo recurso estilístico machadiano, mas nada acrescentava ou esclarecia.

 “Segura minha mão, porque sinto que estou indo. Estou de novo indo para a mais primária vida divina…” (p.59)

 “Ah, meu amor, as coisas são muito delicadas. A gente pisa nelas com uma pata humana demais, com sentimentos demais.” (p. 154)

“Dá-me a tua mão. Porque não sei mais do que estou falando. Acho que inventei tudo, nada disso existiu! (p.96)

Terminado o banquete, ainda de guardanapo alvíssimo nas mãos, decidi ler GH do final para o começo, como se lê um mangá. Recolhendo os destroços do que ficou pelas páginas rabiscadas. Parágrafos inteiros marcados de verde, pequenas notas de rodapé, a fala dos colegas transcritas na lateral dos infindáveis capítulos. Comentários, intervenções e emoções expressas ao longo do texto. Isto sim, um real banquete.

Desse mastigar laborioso, retomei algumas metáforas que se repetiam e iluminavam a releitura: a alusão ao Minarete ( torre alta de uma mesquita, onde se anuncia as 5 chamadas do dia para a oração dos mulçumanos). Bem assim era a obra. De uma estrutura ficcional realmente muito “alta” Clarice nos falava. A barata, como o mais inexpressivo dos seres e a mão, que apenas é referida mas não realiza nenhuma ação protetora.

Assim, dessa pós leitura, fui guardando os achados nas entrelinhas do texto que a própria autora denomina de relato

“Meu desejo agora seria o de interromper tudo isto e inserir neste difícil relato…”(p. 80)

“De uma coisa eu sei: se chegar ao fim deste relato…” (p. 162)

Um relato constituído de indagações filosóficas, questionamentos sobre a estética, a religião e a moral, sentimentos confusos e contraditórios sobre o amor, o medo, a sexualidade, a insegurança, os problemas éticos, a fragilidade dos relacionamentos humanos, compondo uma busca desenfreada por uma identidade que se dizia desconhecida.

Ao final, diante da singularidade e da qualidade literária da narrativa, senti-me no alto de um minarete anunciando a outros leitores as possíveis  leituras de GH, com sua carga de universalidade e inconfundível beleza estética.

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Análise do Conto “A Árvore”, de Maria Luisa Bombal

Fernando Gusmão

Encontro Brígida, 18 anos, protagonista do conto, em um concerto de música clássica. Enquanto aguarda o início da apresentação, cumprimenta uma conhecida, que traz notícias do seu ex-marido. Começa a primeira peça do espetáculo; de Mozart.

Ela se deixa embalar pela música, nos percursos da infância e da sua limitada juventude. Mozart, fiel ao seu estilo, começa leve e agradável, falando com clareza, equilíbrio e transparência, mas, caminha para um foco intenso e sensual. “¡Qué agradable es ser ignorante! ¡No saber exactamente quién fue Mozart; desconocer sus orígenes, sus influencias, las particularidades de su técnica! Dejarse solamente llevar por la mano, como ahora”.

Ao som da música, seus devaneios me dizem de sua história: infância de bela menina,  pai viúvo cheio de filhas mais velhas, que negligenciou sua educação, sua formação, que se conforma: “Es tan tonta como linda”. Ao contrário de suas irmãs, que iam sendo pedidas em casamento uma a uma, Brígida não era pedida por ninguém. Isso faz com que ela, muito jovem, case-se com Luis, bem mais velho, amigo do pai. Uma sociedade patriarcal, decidindo o comportamento feminino apropriado, dificulta, ainda mais, a capacidade de Brígida viver a própria vida. O casamento falha em fornecer satisfação. Ela passa das restrições da casa do pai às limitações da vida com o marido. Sua relação com Luis baseia-se em uma relação de companhia, e não de amor. Luis, por sua vez, também se sente garroteado: “Eres como un collar de pájaros”. O conceito de casamento como estagnação está subjacente para o marido e para a mulher.

Mas, agora, Mozart entra num ritmo mais urgente e arrasta Brígida pela mão, fecha a porta do passado com um acorde doce e firme e a traz de volta para a sala de concertos, trajando preto, batendo palmas mecanicamente, enquanto a chama de luzes artificiais cresce lentamente.

Após alguns minutos, se faz, outra vez, um silêncio de expectativas, que começa a ser alumiado por uma nova harmonia. É Beethoven, que principia a tratar suas notas de forma suave e lírica, quase religiosa, autêntica.

“—No tienes corazón, no tienes corazón. —. Nunca estás conmigo cuando estás a mi lado. ¿Por qué te has casado conmigo?

—Porque tienes ojos de venadito assustado.

— Nunca me has contado de qué color era exactamente tu pelo cuando eras chico.

—Mañana te contaré. Tengo sueño, Brígida, estoy muy cansado. Apaga la luz. —Estoy ocupado. No puedo acompañarte… Tengo mucho que hacer, no alcanzo a llegar para el almuerzo…  Un compromiso. No. No sé. Más vale que no me esperes, Brígida.

—¡Si tuviera amigas! —suspiraba ella.

—Me gustaría ver nevar alguna vez, Luis.

—Este verano te llevaré a Europa y como allá es invierno podrás ver nevar.”

Chega o verão. Seu primeiro verão de casada. Novas ocupações não deixam que Luis cumpra sua promessa.

“—¿Qué te pasa? ¿En qué piensas, Brígida?”

—Tengo sueño…

—¿Todavía está enojada, Brígida?

… … …”

Brígida acha a arma que havia encontrado sem pensar: o silêncio!

Na sala de concertos, a música de Beethoven é, como toda música, um composto de sons e silêncios. Mas, pode, às vezes, ser colérica, plena de espírito de luta, de força de vontade e de uma enorme coragem; obstinada como o granito.

“—Bien sabes que te quiero, collar de pájaros

… … …

—Pero no puedo estar contigo a toda hora

… … …

—¿Quieres que salgamos esta noche?

 … … …

—¿No quieres? Paciencia.

… … …

—Dime, ¿llamó Roberto desde Montevideo?

… … … .

—¡Qué lindo traje! ¿Es nuevo?

 … … … .

—¿Es nuevo, Brígida? Contesta, contéstame!

… … …”

E então, para ela, o inesperado, o incrível, o absurdo: Luis se levanta da cadeira, joga violentamente o guardanapo sobre a mesa e sai da casa batendo as portas. Ela corre para o quarto de vestir.

“¡Ah, me voy, me voy esta misma noche! No volveré a pisar nunca más esta casa… Y abría con furia los armarios de su cuarto de vestir, tiraba desatinadamente la ropa al suelo”.

Algo, então, bate na janela: A árvore, um gomero, que, ao sopro do vento e da chuva golpeava com suas ramas os vidros da janela. Punhados de perolas que chovem a jorros sobre um teto de prata. Chopin!

A música de Chopin é intensamente pessoal, pela grande força espiritual, pela extrema sensibilidade, com um acento romântico cheio de melancolia e, em outras ocasiões, de uma pungente tristeza. Ao escutá-la acredita-se ouvir o andar, mais que firme, pesado, de seres que afrontam orgulhosos de valentia tudo o que a sorte possa trazer de injusto. É a mensagem da esperança, do otimismo, do espírito combativo, mesmo que permeado de dúvidas.

O que fazer no verão quando chove tanto? Ficar o dia inteiro no quarto fingindo uma doença ou uma tristeza?

Uma tarde, Luis entra timidamente. Ela senta-se muito dura. Em silêncio…

“—Brígida, ¿entonces es cierto? ¿Ya no me quieres? —En todo caso, no creo que nos convenga separarnos, Brígida. Hay que pensarlo mucho.”  E Luis foge do quarto.

Ela vai até a janela do quarto de vestir e encosta a testa no vidro gelado. Lá está o gomero recebendo serenamente a chuva que o atingia, calma e regular. O quarto, imobilizado na escuridão, em ordem e silencioso. Tudo parece parar, eterno e muito nobre. Isso era a vida. E havia certa grandeza em aceitá-la dessa maneira, medíocre, como algo definitivo, irremediável.

¡Siempre!

¡Nunca!…

E a chuva, secreta e igual, ainda continuava sussurrando em Chopin.

E, noite após noite, ela dormia ao lado do marido, sofrendo rajadas de dor. Mas, quando sua dor se condensava até machucá-la, como um assovio, quando ela era assediada por um desejo imperioso demais de acordar Luis para atingi-lo ou acariciá-lo, ia até o quarto de vestir na ponta dos pés e abria a janela. O quarto era imediatamente preenchido com ruídos discretos e presenças tranquilas, de passos misteriosos, de vibração, de sutis cliques vegetais, do doce gemido de um grilo escondido sob a casca do gomero afundado nas estrelas de uma noite quente de verão. Não sabia por que lhe era tão fácil sofrer naquele quarto. Era a melancolia e a pungente tristeza de Chopin engatando um estudo atrás do outro, engatando una melancolia atrás da outra, imperturbável.

Veio o outono. Haviam voltado a conversar. Voltara a ser sua esposa, sem entusiasmo e sem raiva. Não o queria mais. Mas, não sofria mais. Pelo contrário, uma sensação inesperada de plenitude, de placidez, tinha tomado posse dela. Ninguém ou nada poderia machucá-la mais. A verdadeira felicidade podia estar na convicção de que a felicidade havia sido irremediavelmente perdida. “Entonces empezamos a movernos por la vida sin esperanzas ni miedos, capaces de gozar por fin todos los pequeños goces, que son los más perdurables”.

Súbito, um rugido feroz, depois um clarão branco que a empurra para trás, toda tremendo.

¿Es el entreacto? No. Es el gomero, ella lo sabe. Lo habían abatido!

Haviam tirado sua privacidade, seu segredo; ela estava nua no meio da rua, nua ao lado de um marido que lhe virava as costas para dormir, que não lhe dera filhos. Ela não entendia como podia ter suportado o riso de Luis por um ano, aquela falsa risada de um homem que treinou para rir porque é necessário rir em certas ocasiões.

—Pero, Brígida, ¿por qué te vas?,  —había preguntado Luis.

—¡El árbol, Luis, el árbol! Han derribado el gomero.

Faz-se silêncio. E a realidade, finalmente, se sobrepõe ao mundo fantasioso de Brígida. Ela conclui que a árvore, como o marido, estão ambos sujeitos a viver e a morrer. Entende que nem a árvore nem o marido podem lhe fornecer uma existência estável. Nessa descoberta, ela rejeita sua condição anterior de dependência e decide que assumirá inteiramente a própria vida:

“¡Mentira! Eran mentiras su resignación y su serenidad; quería amor, sí, amor, y viajes y locuras, y amor, amor…”

De Maria Luisa Bombal fica para mim, principalmente, seu estilo, que desenha um fundo de familiaridade trágica. O ritmo compassado de sua escrita —e a nuance poética das figuras a cada instante evocadas— que anulam qualquer pieguice melodramática e varrem, aos poucos, toda e qualquer hipótese de dúvida entre anseio e sonho.

Setembro de 2018.


Era uma vez …

 

Era uma vez  uma mulher que adorava ler romances. Brincava, ora de dona de casa, ora de psicóloga. Em dado momento,  resolveu brincar de estudar literatura. Pensou no mestrado. Como ouvinte, freqüentou os cursos de Teoria e Crítica Literária. Ficou fascinada. Perdeu a primeira aula e até hoje não conseguiu ler o texto de Jameson nem concluir vários outros de autores diversos. Tempo padrasto. Não desanimou. Tornou-se uma “fiel ouvinte”.

No começo, brigava com o vocabulário específico da área. Haja dicionário para se familiarizar, muitas vezes refamiliarizar-se…

No conforto do diletantismo, fez uma longa viagem pela modernidade ocidental, partindo de um impressionismo pessoal, romântico e ignorante até a terrível discussão dos descentramentos das identidades, das rupturas, das desconstruções intermináveis. De vez em quando, lembrava-se da desintegração e angústia esquizofrênica estudadas no passado. Embrenhou-se no fogo cruzado das ambigüidades das discussões do que seria modernidade, pós-modernidade, modernidade tardia. Visitou, aturdida, templos teóricos de difícil acesso, como o dos estruturalistas. Passou antes pelo precursor formalismo russo, com seu apego estrito à morfologia literária, ao sincronismo  nuançado pelo estudo da evolução literária de Tynianov. Achou bonito e poético o termo “estranhamento” para descrever o especificamente literário, dentre outras coisas. Perdeu-se num labirinto de funções , ações/fábulas, enredos, séries, sistemas, idéias de dominante… Ficou danada porque Tristram Shandy estava em sua estante, intocado.  A Pushkin, se a memória não falhava, só conhecia de nome, e até com o risco de confundi-lo com o músico italiano Puccini, que nascera 21 anos depois de sua morte. Jakobson, sim, conhecera-o num trabalho sobre  a aquisição e perda da linguagem na afasia infantil.

Quase se afoga nos significantes flutuantes, ela que vivia em busca de significados. Perdeu-se entre sintagmas, paradigmas, núcleos, catálises, índices, classificações e mais classificações. O texto dissecado, órfão de autor e de leitor. Deixou de gostar de Goldfinger/James Bond, mas notou o valor deste movimento generalizador que buscou e conseguiu descrever e analisar  obras literárias com  objetividade  científica.

Meio tonta ainda, a mulher suspirou de alívio ao ler a frase de Proust na epígrafe do artigo de Bourdieu: “As teorias e as escolas, como os micróbios e os glóbulos, devoram-se entre si e com sua luta asseguram a continuidade da vida.” O autor não deixou por menos ao analisar interdependências e interinfluências entre artista, obra, mercado,  editor, público, modismos, etc… desmitificando  legitimações e consagrações  nem sempre inocentes ou desvinculadas institucionalmente.  Contrariou-se um pouco: tantos determinismos ameaçavam outras tantas idealizações…

Para consolo, em um altar em Constança, viu, envaidecida, um novo santo milagreiro chamado LEITOR. Leitor primeiro da própria obra escrita para outros leitores. Todos inseridos no contexto histórico, intercambiando-se. Se antes eram os significantes que flutuavam, agora é o sentido da obra que está em contínua formação no percurso produção – recepção. Leitor implícito, leitor explícito, leitor ideal. Simultaneidades não-simultâneas derrubam noções de época definida.

A mulher continua a visita, cada vez mais apressada, sem tempo para parar. Chegou a ouvir vozes, diversas vozes. Não, não estava louca. Eram mensagens do russo, durante muitos anos habitante do gelo siberiano. Clamavam que todos somos influenciados pelo discurso do outro, e que qualquer expressão individual é produto de inúmeras e variadas vozes. Nos textos falam: autor,  precursores, narrador, personagens, conterrâneos, em qualquer pessoa gramatical. Uma troca coletiva de diálogos. E aí morava o significado. Entendeu, mas perdeu-se no meio dos tipos de discurso na prosa. Viu, porém, que, a essa altura, transitava pelo terreno da ideologia e daí a Lukács e Benjamin era um pulo. Ambos em luta contra o fascismo, ambos com textos nos quais transparecia a acusação da cultura e sociedade burguesas. Ambos marxistas de diferente modo. O primeiro viveu muito, ocupou cargos, foi reconhecido. O segundo, de glória póstuma, foi sempre um desajeitado para a vida, no dizer de Hanna Arendt.

Cumprimenta de longe Derrida, Foucault, Deleuze, Cixous e tangencia as diversidades culturais, o multiculturalismo, as oposições binárias, o feminismo, a morte do autor, os questionamentos de estruturas, de autoridades, de códigos e discursos fluidos, o infindável jogo de diferir e de diferençar. Quase tem um pesadelo ao ler que nenhum texto diz coisa alguma, inclusive o que assim prega.

Preocupou-se com a afirmação de Cixous da impossibilidade de uma escritura feminina, enquanto os termos da fração dominante/dominado, ativo/passivo não forem invertidos. Assusta-se com a conclusão da escritora: “Enquanto a mulher e o feminino forem construídos como passivos e incompreensíveis outros, permanecerão imprensados entre dois horripilantes mitos:  a Medusa e o Abismo.”

Depois de tão longo passeio, viu-se no meio de uma globalizada crise de identidades e sob o signo do camaleão. Descontinuidade, fragmentação, ruptura versus identidades culturais e nacionais eram agora as matérias para reflexão. Constatou que as certezas haviam ido pelo  ralo. A moda é tudo discutir, pesar, decidir no aqui e agora.

Aportou, enfim, na discussão sobre latino-americanismo, no mundo dos “pós”. Tradição, tradução, traição? Seguira um roteiro intenso e extenso para seu tempo pessoal e, de repente,  via-se no centro de uma acirrada disputa  inconclusa  em torno de temas e teorias ocidentais e contemporâneas, mudanças de paradigmas, implicações sociopolíticas,  redefinições de sujeito e de objeto mutantes, perplexidades! Tudo a partir do texto literário e de suas relações com o autor e o leitor.

A mulher que brincava de psicóloga leu, ouviu e até mesmo vislumbrou que vários autores se  serviam, em maior ou menor grau, de forma mais ou menos transparente, do método psicanalítico na abordagem da cultura, na abordagem dos textos. Por outro lado, as obras, muitas vezes, parecem impregnadas de um “saber” psicanalítico, quer o escritor queira, quer não. O olhar que autor e leitor lançam sobre os escritos perdeu a inocência. Afinal, teorias, romances, poesias… nascem dos recessos da mente humana com todos os seus mecanismos específicos, e o ser humano é o assunto da psicanálise. Lembrou-se do comentário de Helio Pellegrino de que Clarice Lispector através da literatura domou a loucura. Interessou-se pela função defensiva bem sucedida ou não, que a obra teria para alguns criadores… Observou que Freud,  através de sua escuta, criou  o ‘embrião de um outro lugar para as mulheres’, lugar esse que   Cixous procura afirmar com seu ataque à cultura patriarcal. E a mulher ficou muito curiosa a respeito de como construir uma ponte entre todas essas mudanças de paradigmas, essas rupturas e a  crise por que passa a psicanálise, com várias sentenças de morte já anunciadas. Para essa psicóloga, a Psicanálise – assim como a literatura, ambas linguagem – não cessa de surpreender.

Foi-se uma vez uma mulher que se acreditava centrada, unificada, que ousou brincar com a literatura. Ficou na dúvida para sempre. Entrou por uma perna de pinto, saiu por uma de pato, Sr. Rei, digo Sra. Rainha mandou dizer que contasse quatro.

                                  Olinda, 29/06/1999

                                    *  Maria Adelaide Câmara

  • Maria Adelaide Câmara é psicóloga, ensaísta, ficcionista, amante daw arte e da literatura.

Percursos da Literatura Ocidental

Percursos da História da Literatura Ocidental, sob o olhar de Otto Maria Carpeaux

Lourdes Rodrigues

 

Programamos seguir os percursos da Literatura Ocidental, sob o olhar experiente e sábio de Otto Maria Carpeaux, grande historiador e crítico literário. Ele escreveu uma grande obra, republicada pela LEYA, em seis volumes. A ideia é seguir o percurso realizado pelo autor através dessa obra.

Carpeaux inicia dizendo que História da Literatura” é um conceito moderno, que os antigos não se preocuparam em organizar panoramas históricos das suas literaturas, que aos gregos e romanos jamais ocorreu a ideia de referir os acontecimentos literários de seu tempo e tempos idos,  o que não quer dizer que não fossem interessados em colecionar e interpretar fatos literários. Só na decadência das letras e da civilização surgiu o interesse puramente pragmático, da parte de professores de Retórica ou de bibliófilos, de organizar relações de livros mais úteis para o ensino, para melhorar o gosto decaído, ou então, compor dicionários de citações e florilégios de resumos, para salvar da destruição pelos bárbaros os tesouros literários do passado.

Então ele cita Marcus Fabius Quintilianus (35-95 da nossa era), professor de Língua e Retórica, conservador doloroso, romano austero de estirpe espanhola, segundo Carpeaux, que ao observar com tristeza a decadência estilística e moral dos profissionais de sua arte, decidiu escrever uma obra (Institutio oratoria) para ajudar na preparação da formação dos alunos, e no décimo livro inseriu uma apreciação sumária dos mais importantes autores gregos e latinos, menos com a preocupação de fazer um resumo bibliográfico e mais como um esboço de um biblioteca mínima para o aluno de Retórica. Ele organizou uma relação de livros-modelo, de Homero, através de Píndaro, Eurípides, Ésquilo, Sófocles, Aristófanes, Heródoto, Tucídides, Demóstenes, Platão, Xenofonte, até Aristóteles; e de Lucrécio, através de Virgílio, Horácio, Salústio e Tito Lívio, até Cícero e Sêneca.

Carpeaux diz que ele não suspeitou das consequências da sua escolha. Até para definir se vão ser conservados ou não, uma obra e seu autor, em épocas de grandes perdas e destruições, essas definições passaram a ser regidas pelas escolhas de Quintiliano. Na primeira Idade Média, os monges de São Bento escolheram entre as obras de Quintiliano os livros didáticos para os jovens estudiosos dos conventos; os humanistas usaram a relação para discutir a importância dos autores citados; na época de Luís XV, durante a Querelle des Anciens et des Modernes, os argumentos de Quíntiliano em favor dos gregos foram bastante usados pelos defensores dos modelos clássicos e os argumentos dele em favor dos romanos pelos defensores da poesia moderna.

Essa seleção continua sendo uma tábua de valores, embora  Quintiliano não tenha escrito uma história da literatura. Houve só um Quintiliano, embora muitos outros espíritos menores tenham organizado fichários, listas bibliográficas, sem jamais atingir o seu nível de qualidade e extensão.

Os eruditos barrocos preferiram as enciclopédias críticas, nas quais as biografias de eruditos célebres de todos os tempos serviam de pretexto para se lhes discutirem as opiniões filosóficas e religiosas… O Dicionário de Bayle (1697) foi um mero pretexto para destruir a credibilidade de inúmeras lendas gregas e romanas Nascia assim a crítica histórica. Na querela entre os antigos e modernos é posta em dúvida a superioridade dos gregos e romanos. Vico reconhecerá os valores de diferentes épocas. Montesquieu deduzirá da história romana certas leis gerais da evolução das nações. O tempo passa a ser visto agora não mais só como passado mas como evolução que continua. Começam-se a se compor histórias das literaturas modernas, histórias no sentido de erudição barroca, coleções imensas, enciclopédicas, obras de verdadeiro fanatismo de reunir datas e fatos.

A História Literária da França, iniciada em 1733 pelos beneditinos, ainda estava nos primeiros volumes quando os jacobinos deram fim violento aos religiosos, várias décadas depois. No século XIX a Academia das Inscrições se propôs a dar continuidade, mas traçou um plano tão vasto que não foi possível concluí-la.

Na Espanha, em 1766 dois franciscanos tentaram fazer a Historia Literária da Espanha, uma obra tão grande, que no décimo volume, publicado em 1791, vinte e cinco anos depois, os autores ainda não haviam acabado a introdução.

Enfim, o jesuíta italiano Girolano Tiboschi compilou entre 1722 e 1782 em 9 volumes, a história da literatura italiana, embora seja apenas um trabalho de levantamento bibliográfico, nada que representa a história da literatura como se entende hoje. O que faltava a Timboshi, segundo Carpeaux, era a capacidade de narrar, o senso crítico.

O primeiro grande crítico ele diz ter sido Samuel Johnson que optou pela forma biográfica (The Lives of the Poets, 1781) A ligação entre história e crítica veio do pré-romantismo, com seu forte interesse pelas tradições históricas das nações modernas e pela apreciação crítica de épocas então meio esquecidas, como a Idade Média. O precursor foi Thomas Warton: a sua History of English Poetry (…) é a primeira obra na qual a história literária é tratada como se trata a história política. Mas, o fundador da história literária autônoma foi Herder, embora não tenha deixado uma única obra definitiva, apenas inúmeros escritos. Com ele, os registros dos livros foram substituídos pelas histórias das obras e das ideias.

Após mencionar vários seguidores de Herder, Carpeaux diz que a única forma de resolver a multiplicidade de obras sínteses representativas das literaturas de vários países, seria retirar o viés nacionalista da História da Literatura (gregos, romanos, franceses, italianos, alemães, etc.), … abolir as fronteiras Nacionais para realizar a história da literatura europeia (e americana) e chegar, enfim, a uma História da Literatura Universal.

A história dessa Literatura internacional é composta de grandes períodos: Idade Média, Renascença, Barroco, Ilustração, Romantismo, Realismo, Naturalismo, Simbolismo, que, graças à análise estilística e ideológica, já têm sentido. E ele completa, a Literatura não existe no ar, ele diz, e sim no Tempo, no Tempo Histórico, que obedece ao seu próprio ritmo dialético. Ele ressalta, entretanto, que a Literatura reflete esse ritmo, mas não o acompanha. E diz que essa distinção é importante para não transformar a literatura em mero documento das situações e transições sociais, porque a repercussão imediata dos acontecimentos políticos na literatura não vai muito além da superfície. Quanto aos efeitos da situação social dos escritores sobre a sua atividade literária será preciso distinguir nitidamente entre as classes da sociedade e as “classes literárias”. Um terceiro aspecto que ele considera é a relação da literatura com a sociedade que não é de mera dependência: é uma relação complicada de dependência recíproca e interdependência dos fatores espirituais (ideológicos e estilísticos) e dos fatores materiais (estrutura social e econômica). Essa interdependência ele diz que constitui o objeto da “sociologia do saber”, cujos conceitos permitem estudar os reflexos da situação social na literatura sem abandonar o conceito da evolução autônoma da literatura.

Assim, em sua HISTÓRIA DA LITERATURA OCIDENTAL, Carpeaux diz que a literatura é estudada como expressão estilística do Espírito objetivo, autônomo, e ao mesmo tempo como reflexo das situações sociais.

Como Fazer Uma Resenha Literária

Rolando Barthes, em A Preparação do Romance, defende a tese de que só se escreve porque se lê. Neste momento, não estamos falando desse processo que leva à criação literária ficcional, leitura particular que aprisiona o leitor na armadilha das palavras. E sim, da leitura que leva à necessidade de resenhar a obra lida, seja para reter seus aspectos fundamentais, seja para estruturar uma avaliação crítica para transmissão, publicação ou satisfação particular.

Para que isso aconteça, o primeiro passo é uma leitura atenta, que na maioria das vezes, exige muitas releituras. É importante tentar apreender nessas leituras o tipo de gênero textual que se tem em mãos, se prosa, poesia, ficção ou não ficção, ensaios, documentos históricos. Depois da primeira leitura, a segunda já deve ser sublinhando palavras, frases, períodos, fazendo anotações à margem (quem gostar), buscando relacionar com outras passagens mais adiante, indo e voltando quantas vezes sentir necessidade, Marcar tudo que chamar a atenção ou tiver conexão.

A estruturação de uma linha de pensamento sobre a qual vai se pretender escrever a resenha, é um facilitador. Para isso, identificar nas  marcações as passagens que vão ajudar a construir essa linha.

Se o texto for ficcional, atenção para os seguintes aspectos, não importa a ordem com que são abordados na resenha:

  • Análise dos elementos formais da narrativa. É uma narrativa circular ou retrospectiva? Como os capítulos se dividem? Determinar como a estrutura e a forma escolhidas afetam a narrativa.
  • Como  situar a narrativa? Drama psicológico, aventura, mistério, realismo fantástico, texto discursivo, metalinguagem, persuasivo, sátira, lírico. Aqui o resenhista deve se sentir livre para escarafunchar o texto tentando desvendá-lo.
  • Qual o foco narrativo? Existe mais de um? De quem é a voz que narra? Existe mais de uma? Como elas se conectam na história? Analisar se o texto está na primeira ou na terceira pessoa. Qual o tipo de narrador? É possível identificar o narratário? O texto mostra mais do que narra? Há muitas histórias paralelas ou subjacentes? O Espaço narrativo e o tempo narrativo, como estão sendo tratados no texto? Qual a trama, o estilo, os personagens? Personagem redondo ou plano? Há efeitos de repetição? Musicalidade?
  • Que tema ou temas são tratados no texto? Podem existir vários, mas qual o tema central, aquele que é a espinha dorsal da narrativa?

No texto não ficcional, outros elementos são importantes, como as fundamentações teóricas sobre as quais repousam os argumentos do autor. Se é um texto argumentativo que tenta defender alguma ideia, concentrar a análise na força dos argumentos. Se é um texto discursivo, verificar a coerência, a base de referência utilizada se é reconhecidamente adequada, quais as circunstâncias culturais, sociais, históricas, econômicas observadas.

Analisar o mérito da Obra, qual a contribuição dela para a Literatura;  as ideias apresentadas são criativas, originais. O texto é claro? A quem essa obra é dirigida? Que tipo de leitor?

Em qualquer tipo  de resenha é indispensável trazer informações sobre o autor, outras obras suas, a época em que a obra foi escrita para situá-la num contexto socioeconômico e literário.

Na obra que está sendo resenhada, informar, ainda:

– Catalogação da Obra

  • Título (subtítulo)
  • Publicação (número, editora, data)
  • Tradução (Quando se tratar de uma Obra Estrangeira)

A linguagem deve ser clara, informal, quase uma conversa. A avaliação crítica tem que ser bem pessoal. Mesmo quando usar análises de outras pessoas, não deixar de opinar no final. Pode ser escrita na primeira pessoa. A conclusão deverá resumir as informações apresentadas na resenha, de modo claro e interessante.

Jaboatão dos Guararapes, março de 2018

Lourdes Rodrigues

Do Riso ao Siso, Contos à Beira do Cais

Lourdes Rodrigues

Era uma vez um jovem rapaz, deitado numa relva, sentindo-se entediado em pastorear ovelhas num bosque imenso e silencioso, onde nada parecia acontecer, imaginou-se sendo atacado por um lobo. A fantasia o empolgou. E ele continuou a deixá-la fluir. E se os aldeões soubessem que eles estavam sendo atacados pela fera? Aquela ideia o atiçou ainda mais. Então, ele começou a gritar Lobo, Lobo, Socorro, Lobo. Os seus gritos de terror foram ouvidos pela aldeia inteira que saiu às carreiras, armada como podia, para socorrer as ovelhas e ao pobre rapaz. Indignada, a aldeia descobriu que havia sido ludibriada, ao encontrar o rapaz rolando pelo chão às gargalhadas. E isto se repetiu, até que certo dia, o rapaz gritou por socorro e os aldeões silenciaram, do canto não se mexeram, e o lobo fez a festa.

Nabokov usa a fábula de Esopo[1] para dizer que a Literatura não nasceu quando o rapaz começou a gritar Lobo, Lobo, e saiu a correr com um grande lobo às suas costas, mas quando ele gritou Lobo, Lobo e não havia nenhum lobo a persegui-lo. É inteiramente acidental se o pequeno pastor de ovelhas acabou sendo comido pelo lobo, quando desacreditado pelos alarmes mentirosos, seu grito ecoou em ouvidos moucos na aldeia.

Para a Literatura, diz ele, o que tem importância é a invenção, a capacidade inventiva do pastor. A literatura é, acima de tudo, invenção, ficção, fantasia. A magia dessa fábula está na sombra do lobo que o pastor de ovelhas deliberadamente criou, no fantasma que ele trouxe e que percorreu de ponta a ponta a aldeia. Mas, ao pastor, não lhe bastava a criação fantasmática.  Ela carecia de valor social, valor cuja autenticidade somente o outro poderia conferir. Então, ele gritou.

Se as mentiras, por um lado, levaram o pastor e as ovelhas a morrerem devorados pelo lobo, rendendo lição de que a mentira não compensa, para ser contada ao redor da fogueira; por outro, propiciou ao personagem-pastor o seu reconhecimento como o pequeno mago, o criador, o inventor, aquele que transfigurou a realidade com seu espírito criativo e deu-lhe novo formato,  o de uma realidade imaginária, ficcional.

É neste ponto, na transfiguração da realidade, que Marília Morais, em seu texto sobre Poesia, Psicanálise e Ato Criativo diz que o fazer psicanalítico guarda similaridade com o fazer poético: na capacidade criadora que ambos têm de instaurar novas realidades: (…) o poema não reproduz o dizível, ele cria o dizível. A psicanálise, no seu fazer, cria para o analisando a possibilidade de realidades diferentes, de novas invenções de si mesmo.[2]

Freud chama a atenção em Delírios e Sonhos na Gradiva de Jensen para a importância da parceria que a psicanálise poderia ter com a literatura:

os escritores criativos são aliados muito valiosos, cujo testemunho deve ser levado em alta conta, pois costumam conhecer toda uma vasta gama de coisas entre o céu e a terra com as quais a nossa filosofia ainda não nos deixou sonhar. Estão bem adiante de nós, gente comum, no conhecimento da mente, já que se nutrem em fontes que ainda não tornamos acessíveis à ciência.[3]

Marília Morais, inspirada em Freud, arremata que o poeta fala, sem saber, aquilo que o psicanalista concluirá após muito estudo e reflexão.

Em um evento como este deu-se o meu encontro com o Traço Freudiano Veredas Lacanianas Escola de Psicanálise, em 2003. Chamada por um cartaz exposto na UBE (União Brasileira dos Escritores), eu tentava acompanhar as falas e me perdia no meio delas. Leitora voraz, desde criança, julgava-me, pretensiosamente, conhecedora de um pouco de Literatura, embora aquele autor me fosse desconhecido: James Joyce. Estaria no evento certo, eu me perguntava. Sim, estava. No intervalo vieram as apresentações e o convite para participar de um grupo de estudos de Clarice Lispector, de quem eu já lera algumas obras e admirava.

Iniciava o meu percurso rumo à literatura interfaceada com a psicanálise, esta, até então, eu só conhecera de alguns consultórios pelos quais eu havia passado ao longo da minha vida, e de algumas leituras curiosas.

O estranhamento inicial das falas da tribo psicanalista freud-lacaniana cedeu lugar ao sentimento de quem havia encontrado a sua aldeia, pelo acolhimento, e, sobretudo, pelo caminhar juntos da Literatura com a Psicanálise. Um caminhar, como diz Tania Rivera, uma diante da outra, reabrindo possibilidades de ligação, sem se deixarem reduzir uma a outra.

As palavras deslizantes de Clarice, a sua sintaxe mutante, aprisionaram a mim e aos outros participantes, engravidando-nos de desejo de criarmos um espaço em que a leitura e a escrita pudessem estar acasaladas e fossem a sua base de sustentação e procriação.

Nascia assim a Oficina de Criação Literária Clarice Lispector, em 2006. Os participantes, chamados de viageiros pelos mares das palavras, encontram-se uma vez por semana, realizando longas viagens, de duração em torno de dez meses, todos os anos. Aos navegantes é estimulado lançarem-se ao mar dispostos a sentir a viagem de todas as maneiras, parafraseando Fernando Pessoa:

Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.[4]

Toda realidade é um excesso, diz o poeta. Sabato complementa, só na arte se revela a realidade, toda a realidade. E assim como na Viagem Sentimental, de Laurence Sterne, com quem aprendemos, prazerosamente, que ao viajante cabe procurar a essência das coisas, não sob o claro meio-dia em ruas largas e abertas, mas em uma esquina despercebida de entrada escura, os viageiros da Oficina, sempre, dirigiram sua atenção às sinuosidades, silêncio, sombras e deslizes das palavras, realizando o que Francine Prose chama de close reading, Umberto Eco de leitura empírica, e nós chamamos de leitura por fora das palavras, pelos não-ditos, pelas elipses.

As Cartas Náuticas que desenhamos antes da partida são meras referências, não impedem de a rota ser alterada sempre que algo chamar a nossa atenção. Se as condições atmosféricas são atraentes, se os navegadores estão movidos pelo desejo do sentir, a carta de navegação não tem a rigidez dos icebergs, mas a flexibilidade das velas sob o humor dos ventos. Assim, se preciso for, outra rota será traçada e a nau seguirá em frente em busca de novos sentimentos.

Essa aparente negligência com a programação estabelecida reflete o espírito de aventura daqueles que singram mares em busca das águas profundas, aquelas que nos levam aos precipícios da alma, mesmo que, em seguida, busquemos águas mais rasas que nos permitam, aliviados, ver praias à distância. É a viagem ziguezagueante da mente errante, no dizer de Sterne, a mesma viagem da libélula que não escolhe as flores aleatoriamente, mas por uma primorosa harmonia ou alguma brilhante discordância.

Muito há para se falar dessas viagens que não cabe em sua totalidade num texto como esse. Todavia, há espaço suficiente para registrar algumas liturgias e um pouco das milhas percorridas.

Há que se dizer que antes de lançarmo-nos ao mar, seguimos sempre um ritual: receber bons augúrios da nossa madrinha Clarice Lispector, batizando-nos com a leitura dos seus escritos. A sua arte inspiradora, marcada pelas metáforas, frases anômalas, associações, epifanias são o mergulho intimista que precisamos para dar início à viagem.[5]

Há que se dizer, ainda, que o riso de Bergson nos ensinou que,  além de ser do humano o riso, ele é sempre de um grupo, porque carece de eco para existir. É com disposição de espírito para o humor que zarpamos rumo às nossas viagens, e o ribombar do riso se faz sempre ecoar. Esteve muito presente quando lidos trechos que beiravam o escatológico em Gargântua e Pantagruel, de Rabelais, e pelos rubores e desconcertos diante da beleza e irreverência de passagens eróticas de alguns clássicos como Metamorfose, de Lucio Apuleio, A Poética do Sexo, de Ovídio, Cântico dos Cânticos, de Salomão, entre muitos outros.[6] Risos mais contidos ou desconcertados, quando lemos o Marquês de Sade, por percebermos exigência de maior sobriedade, não tanto em O Marido que Recebeu a Lição, muito mais em Monges e Virgens. A perversão explícita, em sua forma de relação com a fantasia, trouxe algum desconforto aos viageiros, talvez pela leitura coletiva. Pela mesma razão, em O Olho do Gato, de Bataille, o riso deu lugar ao espanto e ao silêncio de quem se sente inseguro quanto à fronteira entre a obra essencialmente literária e a pornográfica, exigindo releituras para melhor discernimento.

Nem só de riso, entretanto, se faz o balanço das nossas viagens. Do riso ao siso, sempre uma travessia difícil. Alguns ensaios de Montaigne[7] são como uma ponte prazerosa e rica entre momentos tão próximos e tão distantes. E assim içamos as velas rumo ao teatro, primeiro ao grego clássico, de Sofócles, um grande artista da palavra. Duas obras fundamentais foram lidas: Édipo Rei e Édipo em Colono. Para Nietzsche, o grego conhecia e sentia os pavores e sustos da existência: simplesmente para poder viver, tinha de estender à frente deles a resplandecente miragem dos habitantes do Olimpo.  Ainda na rota do teatro, seguimos para o período de ouro do teatro inglês com Shakespeare, para podermos, enfim, ancorarmos na dramaturgia moderna de Ibsen, com A Casa de Bonecas, entre  outros.

Os mares das palavras são muitos e diversos, como a metáfora dos bosques, citada por Umberto Eco para definir um jardim em que vários caminhos se bifurcam. Saindo da tragédia, enveredamos por outros caminhos, entre eles, o do fantástico, na temática do duplo, desde a raiz mitológica, do Doppelganger[8], à interpretação psicanalítica do Unheimliche, de Freud, em que o familiar e ao mesmo tempo estranho, trazem profundo desconforto. A técnica da duplicação estimula o interesse do leitor que tenta desvendar esse sujeito que é uno e duplo, ao mesmo tempo, com inúmeras possibilidades interpretativas. Umberto Eco diz que não há lei que delimite a forma de ler do leitor empírico, ela é resultado das suas paixões que podem ser exteriores ao texto ou provocadas pelo próprio texto. Assim foi em Aura, de Carlos Fuentes; no O Horla de Guy de Maupassant, em William Wilson, de Edgard Allan Poe, O Homem de Areia, de Hoffmann. Grandes escritores usaram e continuam a usar o duplo em suas narrativas, muitas delas foram objeto de nossas leituras e análises.[9]

Há de se mencionar, ainda, que dos escombros da alma, pinçamos a loucura, amparados pelo poeta Fernando Pessoa quando diz, Sem a loucura que é o homem/Mais que a besta sadia/Cadáver adiado que procria?  A atração que o tema exerce, levou Foucault a afirmar que a loucura é um saber. Eu diria que para os escritores, em particular, a loucura, enquanto abismo da alma, no dizer de Artaud, é um vasto e profundo campo de criação poética e ficcional. Fascinantes o Diário de um Louco, de Gogol, as Memórias do Subsolo, de Dostoievski, os Signos e Símbolos, de Nabokov, só para falar de algumas.[10]

Muitas tardes da Flor de Santana e da Alfredo Fernandes foram dedicadas às veredas fantásticas das vozes e murmúrios saídos das pedras e de debaixo da terra em Comala, de Pedro Páramo;   aos queridos anti-heróis de O Vermelho e o Negro, de O Estrangeiro,  de Madame Bovary;  à compaixão pela solidão, desamparo e servidão humana dos personagens em A morte de Ivan  Ilitich,  na Obscena Senhora D,  e em Marido; aos comoventes ritos de passagem em Menina a Caminho e A festa no Jardim.

Que dizer das muitas leituras labirínticas, polifônicas, caleidoscópicas, dos monólogos e fluxos de consciência, entre elas, O Som e a Fúria, de Faulkner, trazendo o cheiro das madressilvas e a lembrança de Benjy, o idiota, que não fala, mas narra a história no primeiro capítulo, através dos seus choramingos, olhos e pensamentos fragmentados; do barulho do martelo para fazer o caixão da mãe e da longa agonia para enterrá-la em Enquanto Agonizo, do mesmo autor; da festa de Clarissa em Mrs. Dalloway, de Virgínia Woolf, de O Monólogo de Molly Bloom, de James Joyce. [11]

E da grandeza de obras como A Praça do Diamante, Ana-Não, Bartleby, o Escrivão.[12]

Foram tantas viagens em prosa ao longo de treze anos, impossível citá-las todas. Nos livros que publicamos estão mencionadas boa parte delas. O Escrituras IV foi publicado, eletronicamente, pela Amazon.com, e a intenção é publicar os outros ainda neste semestre. No blog da Oficina há registro delas, das resenhas que foram feitas, de vários escritos sobre os nossos trabalhos.

Mas não só de prosa se fizeram as nossas viagens. Carentes de poesia, os navegantes pediram para criar um Momento Poético para leitura de um poema, no início de cada percurso. De benção necessária à iniciação, se transformou em momento especial de mergulho dos viageiros para uma travessia muito particular.  Grandes poetas por ali passaram.[13]

Rolando Barthes, em A Preparação do Romance, defende a tese de que só se escreve, porque se lê. Não qualquer leitura, tantos leem e tão poucos escrevem, diz ele. A sua tese é de que só a leitura particular, a leitura tópica do desejo do leitor, aquela que o aprisiona no armadilha das palavras e lhe semeia a esperança de ele próprio escrever, pois cada palavra é um caminho de transcendência, leva o sujeito à criação literária. Leitura transformadora, consumida pelo suplício de uma falta.

Como pode uma leitura ser particular, tópica, se realizada por um grupo, como no caso da Oficina, lugar onde o amor a si mesmo narcisista está sujeito à limitações? Segundo Freud, são os laços libidinais que se constituem entre os participante do grupo que desvanecem a intolerância às diferenças internas, às peculiaridades de cada um, reduzindo as possíveis aversões que poderiam surgir. O amor por si mesmo só conhece uma barreira: o amor pelos outros, o amor por objetos, diz ele. E mais, que esses laços nascem da identificação a um traço comum, colocado no lugar do Ideal do Eu, o mecanismo que responderia pela consistência do grupo ao oferecer um poderoso meio de satisfação substitutiva para seus membros.

Um grupo assim constituído é mais do que uma soma de pessoas, cada sujeito nele envolvido traz sua grupalidade anterior, suas tradições e costumes, as suas funções e posições particulares, as suas paixões, sua visão de mundo, inclusive, suas contradições, e uma vez do grupo participando, a partir da sua interação com ele, gera uma nova totalidade. Quanto mais forte for esse laço, mais o grupo se consolida, inclusive nas suas diferenças. E o resultado será sempre a exaltação ou intensificação da emoção

A Literatura tem sido esse traço na Oficina. A magia da fabulação, da fantasia é o traço que nos une. É nele que encontramos a satisfação substitutiva que nos compensa das renúncias que fazemos ao nosso amor narcísico, que dá consistência imaginária ao grupo promovendo uma ilusão de completude.

O grupo não é o mesmo de quando começou. Alguns viageiros aportaram chamados pela vida ou por razões que estiveram além da sua vontade, deixando saudades e registros das suas pegadas nas Escrituras. Outros amantes da aventura literária sempre nos esperam nos portos em que atracamos e são recebidos com guirlandas de flores. Sempre uma grande festa a chegada de outro companheiro.

E é desse encontro amoroso com a Literatura, desse intenso exercício de sensibilidade, que as armadilhas contidas nas palavras nos fazem sentir o seu efeito germinador e ouvir a trombeta do pai a soar e ressoar … toda palavra, sim, é uma semente. Passar da leitura para a escrita, no rastro do desejo, acontece pela mediação de uma prática de imitação, diz Haroldo Bloom. Não a imitação pobre do plágio, mas a imitação transformadora, aquela em que o leitor versus escritor realiza o clinamen, situação típica de apropriação sob a forma de releitura ou interpretação desviante, no ponto em que o escritor influenciado acredita ser necessário corrigir o poema do seu antecessor. Fortes fatores emocionais envolvem esse processo e Haroldo Bloom os chama de Angústia da Influência.

Para Roland Barthes, o eu do sujeito é falado a partir do lugar do Outro, da identificação ao outro que permite situar com certa precisão a sua relação imaginária e libidinal com o mundo e ver o seu lugar, e estruturar, em função desse lugar e do seu mundo, seu ser.

Do riso ao siso, da comédia ao trágico, muitas leituras que por ali passaram gestaram centenas de escritas, boa parte delas registradas nos quatro livros chamados de Escrituras, já publicados pela Oficina. O êxito de uma oficina é medido pela escrita dos seus participantes. Muitas releituras foram realizadas de obras que impactaram os viageiros, com total licença poética, desde o enredo, ao ponto de vista usado pelo narrador, entre elas A Missa do Galo, A Pomba Enamorada, Delírio, Viagem à Petrópolis, Hoje de Madrugada, As babas do Diabo, O Patinho Feio. Muitas resenhas são escritas sobre as obras lidas. No início da Oficina, havia os exercícios para quebra de bloqueio criativo, desde os jogos para composição de texto usados pelos surrealistas, tipo cadavre-exquis, ao uso dos constrangimentos oulipianos, tipo tautogramas,por exemplo. Ás vezes basta uma palavra, uma cena, uma música, um tema para estimular a criatividade.

Quando perguntado sobre o que era Literatura, Borges disse, certa vez, irritado, Ninguém indaga qual é a utilidade do canto de um canário ou do avermelhado do crepúsculo.

Na verdade, são muitos os caminhos das letras. Quanto mais elas andam, mais o círculo brilhante que as circunda deixa sombras de mistério e de silêncio em seus rastros. A bússola dos viageiros são essas pegadas que elas largam. Segui-las é mais do que uma escolha, torna-se a própria razão de ser da viagem. Pouco importam os mares revoltos, os ventos açoitadores, os cantos das sereias, os icebergs enganadores. É preciso segui-las, desvendar-lhes os mistérios, reconhecê-las em suas incompletudes e mesmo assim continuar a persegui-las. É preciso viver a utopia de que vai alcançá-las, de que até vai dominá-las para aquietar essa ansiedade que norteia um navegante viageiro das palavras.

Jaboatão dos Guararapes, fevereiro de 2018

NOTAS:

 [1] NABOKOV, Vlademir – Aulas de Literatura – Relógio D’Água Editores, Lisboa, 2004

[2] MORAES, Marília – Poesia, Psicanálise e Ato Criativo – texto eletrônico

[3] FREUD, Sigmund – O Delírio e os Sonhos na Gradiva de Jensen e outros textos – V. VIII – Imago.

[4] PESSOA, Fernando – Poemas – heterônimo, Álvaro de Campos.

[5] Vários contos de Clarice Lispector foram lidos ao longo desses anos:  Laços de Família, Amor, Feliz Aniversário, A menor mulher do mundo, Começos de uma fortuna, Viagem à Petrópolis, Felicidade Clandestina, A Via Crucis do Corpo, O Primeiro Beijo, O Búfalo, A Galinha.  Foi lido também Água Viva, e várias das suas crônicas de A Descoberta do Mundo

[6] Entre os clássicos lidos, ainda, no tema do erotismo estão: Eros Místico, de Juan de La Cruz, Sonetos, de Bocage, O Amor e o Belo, no Banquete, de Platão, A Sedução Criativa,  de Casanova, o Canto V, do Inferno de Dante. Alguns anos antes havíamos lido todo o Inferno, da Divina Comédia, de Dante

[7] MONTAIGNE, Ensaios.

[8] Palavra germânica que significa duplo frequentador.

[9] O Outro Eu, de Mario Benedetti, e em tantas outras obras de autores que passaram por lá, como Dostoievski, Virgínia Woolf, Saramago, Borges, Cortázar, Robert Stevenson, entre outros.

[10] O Sistema de Alcatrão e do Professor Pena, O Coração Delator, de Egard Allan Poe, , A Galinha Degolada, de Horácio Quiroga, Erostrato, de Jean Paul-Sartre, O Túnel, de Ernesto Sábato, Sutulin, do escritor russo, As Babas do Diabo, de Cortázar Elogio da Loucura, de Erasmo Roterdã, este último não concluído. E outras mais.

[11] Água Viva, de Clarice Lispector, Vidas Secas, de Graciliano Ramos, Essa Terra, de  Antonio Torres, Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar, dos contos vários de Guimarães Rosa que ao longo desses anos foram lidos.

[12]   A Varanda de Frangipanni, de Mia Couto, Os Mortos, de James Joyce, Os Moedeiros Falsos, de André Gide.

[13] Charles Baudelaire, Shakespeare, Camões, Emily Dickinson, Lautréamont, Paul Valéry, Wislawa Szymborska, Sylvia Plath, Li Po, Yeats, Elizabeth Browning, Elizabeth Bishop, Cesare Pavese, Paul Verlaine, Paul Éluard, , Edgar Allan Poe, Fernando Pessoa, , Sophia de Mello Breyner Andresen, Federico Garcia Lorca, T.S Eliot,  Florbela Espanca, Joseph Brodoski,  Auden, Elizabeth Frye, Walt Whitman, Ezra Pound,  Charles Bukowski,   José Régio, entre outros. Entre os brasileiros, Cora, Coralina, João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Manoel Bandeira, Manuel de Barros, Vinicius de Moraes, Carlos Pena Filho, Augusto dos Anjos, Mario Quintana, Ferreira Gular, Cecília Meirelles, Affonso Romano Sant’Anna, Daniel Lima, Paulo Leminski, entre muitos outros.

 

 

O Cheiro de Maresia

Quando o cheiro de maresia começa a penetrar a alma do navegante é tempo de içar  as velas e voltar ao mar. Assim, enlevados pelo cheiro que a brisa do mar nos trazia, partimos do Porto-Traço, mais uma vez, seguindo as pegadas da Literatura. Nas mãos, um desenho, inicial, de roteiro para a nossa viagem, que apresentaremos aqui, após um pouco de poesia com Sophia de Mello Breyner e Eugênio Montale.

Por sugestão de Adelaide, que não esteve presente no dia da partida, mas se fez presente através do poema trazido por Anita de  Eugênio Montale, poeta italiano, nascido em Gênova.

Os limões 

Escuta-me,
os poetas laureados
circulam apenas entre plantas
de nomes pouco usados: buxeiros alienas ou acantos.

Eu, por mim, amo os caminhos que levam às valas
ervosas onde em lamaçais
já meio secos meninos apanham
alguma pequena enguia:
as trilhas que bordejam os taludes
descem por entre os tufos de caniços
e se metem nas hortas, entre os pés de limão.

Melhor se as algazarras dos pássaros
se dissipam engolidas pelo azul:
mais claro se escuta o sussurro
dos galhos amigos no ar que mal se move,
e os sensos deste cheiro
que não se larga da terra
e chove em peito uma doçura inquieta.

Aqui das desencontradas paixões
por milagre cala-se a guerra,
aqui toca até a nós, pobres, a nossa parcela de riqueza
e é o cheiro dos limões.

Vê, neste silêncio no qual as coisas
se entregam e parecem prestes
a trair o seu último segredo,
às vezes esperamos
descobrir um defeito da Natureza,
o ponto morto do mundo, o elo que não prende,
o fio a desenredar que enfim nos leve
no meio duma verdade.

O olhar perscruta em volta,
a mente indaga concerta desune
no perfume que se espalha
quando o dia mais enlanguesce.

São os silêncios em que se vê
em cada sombra humana que se afasta
alguma Divindade surpreendida.

 

PROGRAMAÇÃO 2018

Nas pegadas da Literatura

 

Momento Poético
· Leitura de poema, breve biografia do poeta escolhido por um viageiro/viageira.
· Operacionalização: Será realizado quinzenalmente, ocupando o tempo máximo de 30 minutos.

Leitura e Análise Crítica
Formas breves ou Romances.
· Leitura Empírica (Close Reading) da obra integral, analisando estrutura, técnicas, enredo, estilo, personagens, espaço e tempo narrativos. Interfaces.
Operacionalização: Leitura do romance A paixão, segundo G.H. Antes de cada leitura na Oficina, os capítulos deverão ser lidos antes, e a coordenação deverá enviar esquema facilitador da discussão.

Escrita ficcional, resenhas, ensaios
· contos, a partir de algum estímulo ou não;
· resenhas ou ensaios baseados em obras ficcionais, teorias ou movimentos literários.

Estrutura Teórica

· História da Literatura – a partir dos estilos literários, como expressões dos fatores sociais modificáveis, e das qualidades humanas permanentes. Os critérios da exposição historiográfica, são, portanto, estilísticos e sociológicos. (Carpeaux)
Operacionalização: Divididos os tópicos entre os participantes, que farão a análise e apresentarão os resultados sob a forma de resenha ou ensaio para a Oficina. Cada um ficou responsável por um período.

o A Herança (gregos, romanos)- Lourdes
o O Mundo Cristão – Cacilda/Eleta/Luzia
o A Transição – Adelaide
o Renascença e Reforma – Salete
o Barroco e Classicismo – Salomé
o Ilustração e Barroco – Ana Amâncio
o O Romantismo – Paulo Tadeu
o Época da Classe Média – Graça
o Fin de siècle e depois – Mitá
o Literatura e Realidade – Sarmento

· Teoria Literária
o O Escritor e seus Fantasmas – Ernesto Sabato
o Seis Passeios pelo Bosque da Ficção – Umberto Eco
· Técnicas Literárias
o Fluxo de Consciência – Robert Humphrey

Publicações – eletrônicas (livros, blog)
· Eletrônicas e em papel pela Amazon.com – Escrituras I, II e III – IV
· Postagens do Blog – seleção – publicação Amazon.com
· Alimentação do blog
· Escrituras V