Rolando Barthes, em A Preparação do Romance, defende a tese de que só se escreve porque se lê. Neste momento, não estamos falando desse processo que leva à criação literária ficcional, leitura particular que aprisiona o leitor na armadilha das palavras. E sim, da leitura que leva à necessidade de resenhar a obra lida, seja para reter seus aspectos fundamentais, seja para estruturar uma avaliação crítica para transmissão, publicação ou satisfação particular.
Para que isso aconteça, o primeiro passo é uma leitura atenta, que na maioria das vezes, exige muitas releituras. É importante tentar apreender nessas leituras o tipo de gênero textual que se tem em mãos, se prosa, poesia, ficção ou não ficção, ensaios, documentos históricos. Depois da primeira leitura, a segunda já deve ser sublinhando palavras, frases, períodos, fazendo anotações à margem (quem gostar), buscando relacionar com outras passagens mais adiante, indo e voltando quantas vezes sentir necessidade, Marcar tudo que chamar a atenção ou tiver conexão.
A estruturação de uma linha de pensamento sobre a qual vai se pretender escrever a resenha, é um facilitador. Para isso, identificar nas marcações as passagens que vão ajudar a construir essa linha.
Se o texto for ficcional, atenção para os seguintes aspectos, não importa a ordem com que são abordados na resenha:
- Análise dos elementos formais da narrativa. É uma narrativa circular ou retrospectiva? Como os capítulos se dividem? Determinar como a estrutura e a forma escolhidas afetam a narrativa.
- Como situar a narrativa? Drama psicológico, aventura, mistério, realismo fantástico, texto discursivo, metalinguagem, persuasivo, sátira, lírico. Aqui o resenhista deve se sentir livre para escarafunchar o texto tentando desvendá-lo.
- Qual o foco narrativo? Existe mais de um? De quem é a voz que narra? Existe mais de uma? Como elas se conectam na história? Analisar se o texto está na primeira ou na terceira pessoa. Qual o tipo de narrador? É possível identificar o narratário? O texto mostra mais do que narra? Há muitas histórias paralelas ou subjacentes? O Espaço narrativo e o tempo narrativo, como estão sendo tratados no texto? Qual a trama, o estilo, os personagens? Personagem redondo ou plano? Há efeitos de repetição? Musicalidade?
- Que tema ou temas são tratados no texto? Podem existir vários, mas qual o tema central, aquele que é a espinha dorsal da narrativa?
No texto não ficcional, outros elementos são importantes, como as fundamentações teóricas sobre as quais repousam os argumentos do autor. Se é um texto argumentativo que tenta defender alguma ideia, concentrar a análise na força dos argumentos. Se é um texto discursivo, verificar a coerência, a base de referência utilizada se é reconhecidamente adequada, quais as circunstâncias culturais, sociais, históricas, econômicas observadas.
Analisar o mérito da Obra, qual a contribuição dela para a Literatura; as ideias apresentadas são criativas, originais. O texto é claro? A quem essa obra é dirigida? Que tipo de leitor?
Em qualquer tipo de resenha é indispensável trazer informações sobre o autor, outras obras suas, a época em que a obra foi escrita para situá-la num contexto socioeconômico e literário.
Na obra que está sendo resenhada, informar, ainda:
– Catalogação da Obra
- Título (subtítulo)
- Publicação (número, editora, data)
- Tradução (Quando se tratar de uma Obra Estrangeira)
A linguagem deve ser clara, informal, quase uma conversa. A avaliação crítica tem que ser bem pessoal. Mesmo quando usar análises de outras pessoas, não deixar de opinar no final. Pode ser escrita na primeira pessoa. A conclusão deverá resumir as informações apresentadas na resenha, de modo claro e interessante.
Jaboatão dos Guararapes, março de 2018
Lourdes Rodrigues