O patinho feio

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Dizem que O Patinho Feio é a história mais original de Hans Cristian Andersen. Dizem também que é autobiográfica, reconhecida pelo próprio autor e por seus biógrafos. A aparência de Andersen não era das melhores à época. Com altura de 1,85 cm, em torno de vinte centímetros maior do que seus contemporâneos, inclusive dos noruegueses de hoje, muito magro, nariz proeminente além da conta, não parecia ser um modelo de beleza. Filho de um sapateiro que morreu cedo quando decidiu tornar-se soldado e adoeceu, e de uma lavadeira que assim sustentava a família com a morte do marido, e depois tornou-se alcoólatra, não se pode dizer que ele tinha o melhor ambiente familiar. A casa que eles moravam era dividida com mais quatro famílias.  Com esta infância como Andersen tornou-se escritor e não sapateiro? Havia uma vizinha viúva, Mrs. Bunkeflod, que tornou-se de amores pelo jovem, iniciando-o no mundo das letras. Ela não era uma mulher rica, mas era culta, havia sido casada com um clérigo poeta e dispunha de uma pequena biblioteca em sua casa para a qual Andersen era convidado para ir ler. Ele passava a maioria dos seus dias nesta biblioteca lendo tudo que ali existia. Além disso, ela o convidava para participar dos encontros entre ela e a sua cunhada, onde rolava ricas  discussões. Andersen era tão reconhecido por esse afastamento do mundo familiar que o primeiro conto de fadas que ele publicou foi dedicado a Mrs. Bunkeflod.

Dizem que ele após conseguir publicar seus contos e tornar-se endinheirado, costumava vestir-se muito bem ao ponto de ser apontado como um dândi. De patinho feio a cisne após encontrar os seus semelhantes na literatura.

Os contos de Andersen são lidos para e pelas crianças com muito sucesso, O Patinho feio e A pequena sereia, principalmente. A garota que vendia fósforos é muito deprimente e as mães se encarregam da censura. Todavia, esses contos ao serem lidos por adultos permitem muitas interpretações e análises. Na Oficina, quando ele foi colocado como desafio para a escrita criativa surgiram muitas discussões. A proposta para reescrever a história com outro foco narrativo foi bem aceita, mas as análises não permitiram que se fizesse durante a Oficina, mas em casa, porque várias interpretações foram ali colocadas tomando o horário todo disponível. Não dá para reproduzir aqui todos os comentários, o que ficou evidenciado é que ele permite análise sob qualquer aspecto, principalmente sob o ponto de vista psicanalítico como bem o colocou Salomé, do estranho familiar, como disse César depois em email, ele não saiu de casa, aquela casa nunca foi dele, da nominação da mãe que apesar de estranhar aquele filho, aceitou-o, como lembrou Júnior, do conto ser bem mais para adulto pelo tanto de questões que ele levanta, segundo Adelaide.

Na verdade, O patinho feio comove a todos que o leem porque toca de forma particular a cada um. Freud certa vez disse que a tragédia de Édipo, de Sófocles, comovia às pessoas que o assistiam porque elas se identificavam, mesmo que disso elas não tivessem consciência, por conta do desejo primitivo de matar o pai para ficar com a mãe. Quem não se sentiu alguma vez o patinho feio? Essa sensação de estranhamento na família, na sociedade da qual faz parte está muito presente em algumas pessoas. Poucas, entretanto, conseguem libertar-se desse sentimento porque partiram em busca dos seus iguais. Permanecem como presa de uma sociedade que o constrange e inibe.

Em termos literários pode-se dizer que O patinho feio é realmente uma metáfora da vida do seu escritor que soube com muita competência realizá-la. As mudanças de estação indicando evolução, crescimento, maturidade. O lago como a sociedade cruel que exclui e discrimina os que são diferentes. O sentimento de estrangeiro do patinho que sai em busca de sua tribo e só a encontra quando está pronto para reconhecê-la. Tudo foi feito com muita maestria por Andersen.