Além da Limeira
Edna Alcântara 27/02/2012
(Para Mãe Severina)
Oh! Tu que choras
Essa fria cruviana
Pela face a rolar
No relance desse raio
Ou na réstia da candeia
Deixa que eu me vá
Saltando sebes floridas
Molhando as vestes no limo
Nesses campos da Limeira
Pelo espaço seguirei
Em busca do lugar que
Em vida conquistei
Haverá sempre mesa posta
E convidados em volta
Feijão de corda na cuia
Angu pirão e farofa
O prato de carne seca
Depois café bem passado
A rede armada no alpendre
Para o cansaço embalar
A jarra de água do açude
Esfriando atrás de casa
Meninos correndo em volta
Mesmo que eu lá não esteja
Pois o sabor da rotina
Está na alma de quem faz
È trama que a vida traça
Deixa que eu parta então
Enxuga o pranto da face
Desfaz o luto e o queixume
Que um dia tudo volta
Basta que o vento sopre
Lá pras bandas do açude
E o céu se abra todinho
Para o carro do sol passar
Então estarei por aqui
Entre a brisa e o silêncio
Zelando com meus cuidados
Os filhos que vou deixar
Comentário de Odete Brás sobre o poema Além da Limeira
Querida amiga:
Como sou dos velhos tempos, ainda tive de ir ao dicionário saber o significado de ” cruviana ” ! Na minha terra sentem-se os efeitos, mas não me lembro de ouvir o termo. Mais essa para a minha valorização pessoal. Seu poema, que adorei – cheirinho do viver no Nordeste da há uns anos atrás – encantou-me e fez-me recordar, embora sem nada a vêr … o verso da Sophia de Mello Breyner : ” Quando eu morrer, voltarei para buscar os instantes que não vivi junto ao mar ! ” Sophia viveu junto ao mar português, Mãe Severina no Nordeste brasileiro. Difícil é fazer poesia onde o menos é mais, muito mais. Parece feita por arquitecto, a compasso e régua, mas sem perder o essencial, o sentimento. Nada de palavras supérfluas, adjectivos floreados. Aí está a essência apresentada de forma clean. O que é mais difícil … Parabéns.